quinta-feira, 12 de junho de 2008

“Com Fusão”


Carmen Jorge, André Abujamra, Gilson Fukushima, Rettamozo e Paulo Biscaia

Desconstruir o conceito dos tradicionais shows da tradicional música popular. Esse é o nada modesto objetivo do projeto Com Fusão, fruto da inquietação do músico e ator Alexandre Nero e da produtora cultural Bina Zanette. A primeira edição começa hoje e segue até 13 de junho – outras duas edições já estão confirmadas (confira as datas e os convidados em quadro nesta página). Com Fusão vai reunir, em cada encontro, durante dez dias, músicos (um de Curitiba e um de fora da cidade) e outros artistas locais de variadas áreas para discutir, ou melhor, rediscutir as possibilidades de uma performance musical – sem a participação do público. No encerramento dos encontros, os artistas apresentam, a quem interessar possa, uma performance musical diferente de tudo o que se faz atualmente.
O primeiro encontro tem na lista de convidados os músicos André Abujamra (Ex-Os Mulheres Negras e Karnak), paulista radicado em Curitiba, e Gilson Fukushima (guitarrista do Grupo Fato), a coreógrafa e bailarina Carmen Jorge, o poeta-publicitário-faz-tudo Rettamozo e o diretor de teatro Paulo Biscaia. O curador e diretor-geral do projeto, Alexandre Nero, enfatiza o ineditismo da proposta. “Há projetos que unem artistas, mas não passam de encontros relâmpagos e superficiais, com resultados óbvios e extremamente chatos”, discursa Nero. Ele explica que no Com Fusão os convidados se reunirão, durante a temporada de dez dias, das 14 h às 18 horas, no Espaço 2, no centro da capital, e as discussões serão gravadas em vídeo, editadas e, posteriormente, disponibilizadas em DVDs em bibliotecas públicas como contrapartida social – o Com Fusão é um projeto contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Nero, também vocalista do Fato, faz questão de salientar que as discussões do Com Fusão devem ser mais interessantes do que a apresentação ao público. “Afinal, durante os encontros, os convidados terão tempo para discutir, e até mesmo brigar, em busca de novas possibilidades para apresentações musicais. Os artistas de outras áreas, além da música, terão muita importância nos debates, para sugerir soluções inusuais”, enfatiza. Nero reclama, insistentemente, que a música popular é a mais “atrasada” das artes. “No teatro, no cinema, na literatura e nas artes plásticas, faz tempo que romperam os ‘esqueletos’ padrões”, protesta. Ele diz não agüentar mais o que chama de “esqueleto” dos shows: os artistas sobem ao palco, tocam, fingem que saem, o público finge que acredita, os artistas retornam ao bis e o público finge que foi surpreendido. “Chega disso. É preciso reinventar as apresentações”, propõe.
E se, ao invés de ovação, aplausos e gritos de “parou por quê?”, o público do Teatro Paiol (onde acontecerão as apresentações finais de cada encontro) reagir, por exemplo, com ovos e vaias? Nero não se intimida. “A idéia é provocar as pessoas”. Ele garante que, depois dos dez dias de cada edição, bate-papos, elocubrações e ensaios, em vez de um show, pode até vir a ser apresentada uma “instalação musical”. E se alguém, um crítico feroz, disser que o resultado não passa de mais uma mostra do vazio da cultura contemporânea? “Não faz mal. Com Fusão tem a finalidade de ser uma perturbação musical”. Nero, a exemplo de seu homônimo romano, pretende, com o Com Fusão, tocar “fogo” na cidade, ou mais precisamente, nas concepções convencionais dos shows. Para que tudo seja reconstruído com esplendor. Alguém vai chamar os bombeiros?

Composição:
De músicos a atores. De diretores de teatro a multiartistas. Com Fusão tem de tudo:

1ª edição - de hoje a 13 de junho

André Abujamra
Gilson Fukushima
Carmen Jorge
Rettamozo
Paulo Biscaia

2ª edição - 4 a 14 de agosto

Antônio Saraiva
Maurício Vogue
Leprevost, o poeta
Itaercio Rocha
Sergio Albach

3ª Edição - 6 a 16 de outubro

Carlos Careqa
Claudinho Brasil
Nadia Naira
Rafael Camargo
Kátia Horn

Fonte: Gazeta do Povo/por Marcio Renato Santos.